quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

vermes

Tanto aconteceu desde a ultima vez que te vi.
Eu poderia escrever sobre tanto, mas há falta.
Não te falam do vazio - aquele que sufoca e te torna prisioneira.
Não te falam da culpa.
Das noites em claro, dos pensamentos repetitivos.
Não te falam do desejo de esvair, de se tornar incorpóreo, de ir junto.
Não te falam da angústia, que suspende o tempo e o tato.
Não te falam da raiva e da impossibilidade de ser.
Não te falam dos dias de dores físicas, choros no chão, gritos que ensurdecem. E não te falam das dores quietas. Do choro engolido e da farsa estampada.
Não te falam de como buscamos em nós um rastro qualquer deles.
Não te falam de como nos colocamos em seu lugar. De como tornamos impostores de nós mesmos.
Não te falam de como os reconhecemos em cheiros e manias - e que usurpamos sem pedir licença.
Não te falam da voz que não será mais ouvida. Do rosto que não terá mais vida.
Da vergonha da dor. Da vergonha do luto.
Não te falam dos pensamentos mórbidos, dos corpos deteriorados, dos vermes amalgamados.
Não te falam da morte.


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